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Para onde caminha o vento?


O Filme Mary Poppins, produção da Disney baseada em livro homônimo e estrelado por Julie Andrews e Dick Van Dyke, teve a sua primeira exibição no Brasil em novembro de 1964.  Remonta a Londres de 1910, descrevendo uma sociedade estratificada, hierarquizada e imperialista, surfando nas ondas da revolução industrial. Descreve a vida de uma família de classe média alta, cujo patriarca vivia para o trabalho e para sua carreira no banco e cuja mãe era ativista empolgada do movimento sufragista que se iniciava. Enfim, uma família com pais ausentes, que terceirizavam para diversas babás e auxiliares os cuidados dos filhos.


Nesse sentido, a história é bem apropriada para os nossos dias. As crianças pareciam não ter limites. A governanta, exaurida em sua paciência, pediu demissão, pois não suportou o desafio de educar segundo os rígidos padrões do patrão, que acreditava que tudo “deveria ser igual ao banco – sério e preciso: obedecer, controlar, dominar, ser firme, ter rigor, ensinar pontualidade, ordem, limpeza, etc.”


No contexto daquela sociedade, em que o mundo era dos homens, o pai reinava como soberano no lar: sempre sabia o que fazer e tomava a decisão final sobre tudo. Neste caso, muito metódico, chegava em casa do trabalho às 18:00 horas, encontrava as crianças alimentadas, que deveriam ir dormir 10 minutos depois: dispunha, pois, de dez minutos para estar e dar um pouco de atenção aos filhos.


Ao lado dessa casa estava outra, em forma de navio, do Almirante Boom que personificava a ordem, o rigor e a regularidade, cabendo-lhe anunciar para onde os ventos sopravam. Através de um método peculiar – o disparo de tiros de canhão – ele fazia o anúncio das mudanças de direção dos ventos. Ao detectar que os ventos mudaram para o sul, o comandante prenuncia mudanças à vista.


Descendo das nuvens em sua sombrinha voadora, Mary Poppins pousou de forma suave perto da casa da família relatada acima. O mundo mágico se configura já em sua entrada triunfal, que demonstra que veio à Terra com uma missão especial: mudar aquela família, notadamente, aqueles pais. Admitida como a nova babá, ela transforma a casa, subvertendo os hábitos e a cultura da família, ensinando aqueles pais a serem “preparadores emocionais”, inserindo alegria, naturalidade, espontaneidade e responsabilidade, por meio do lúdico, da surpresa e do encantamento. No início, Mary Poppins foi acusada de subverter a ordem, a calma e trazer o caos – o novo sempre incomoda!


Ao final, mãe, pai e filhos são resgatados para uma vida em que os laços emocionais e familiares são fortalecidos. O pai, que vivia em função do trabalho e do dinheiro, ganha um novo sentido para a sua vida, antes vazia.


O método pedagógico utilizado por ela baseou-se em dois pilares principais: o amor e o respeito à criança. Consolidou-se através do prazer e da espontaneidade, além de revelar que a disciplina não é antagônica ao amor.


Então, o Almirante Boom anunciou que os ventos mudaram para o norte. Missão cumprida. Mary Poppins decola com a sua sombrinha, sem despedidas.

___ Relator Fernando Manuel Freitas de Oliveira Membro da Comissão de Ensino e Pesquisa da Sociedade de Pediatria de São Paulo Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo


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