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CFM ressalta: falta de infraestrutura de escolas médicas prejudica a formação de futuros médicos


O conselheiro Carlos Magno Dalapicola, 2º tesoureiro do Conselho Federal de Medicina (CFM), criticou nesta terça-feira (24), em audiência pública na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, a abertura indiscriminada de escolas médicas no País – patrocinada pelo Governo Federal. Segundo ele, a criação de faculdades de medicina e de novas vagas sem o devido respeito a critérios mínimos de infraestrutura resulta em má formação dos estudantes e prejudica a assistência em saúde à população.


Na avaliação do conselheiro, falta vontade política para resolver o problema da baixa qualidade de ensino em diversas escolas médicas do País. “Os cursos de medicina que não oferecem ao aluno uma boa formação deveriam ser fechados. Esta seria uma opção. Sabemos que é difícil, mas a situação está fora de controle. Já são 389 escolas médicas no Brasil, mais do que em todos os países do mundo – exceto a Índia, que tem uma população sete vezes maior que a nossa. Isso resolveu o problema da medicina no Brasil? Não”, afirmou.


Para Dalapicola, a vontade econômica tem prevalecido na abertura das faculdades. Ele ressaltou que o CFM não trabalha contra a criação de novos cursos de medicina, mas que luta para que eles ofereçam condições para que o aluno tenha a oportunidade de aprender. Ele explicou que o Conselho defende como pré-requisitos aos municípios que sediam escolas médicas no País a existência de, no mínimo, cinco leitos públicos para cada aluno; no máximo, três alunos para cada equipe de saúde da família (ESF); e um hospital ensino ou unidade hospitalar com pelo menos 100 leitos.


Ele ressaltou que as ideias defendidas pelo CFM já foram levadas aos Ministérios da Saúde e da Educação e também ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. “Você só aprende medicina quando está do lado do paciente. Muitas vezes temos 1 leito para vários alunos. É inviável e fica até incomodo para o paciente, que é o nosso bem maior. Também vemos vários alunos por equipe de saúde da família. O aprendizado fica muito carente. Como o graduando em medicina vai aprender sem estar presente num hospital, num pronto-atendimento ou numa UPA, sem contato com o paciente? ”, explicou.


Boneco – Dalapicola também falou sobre a diferença entre a teoria e a prática no aprendizado da medicina. De acordo com ele, fazer procedimento em um boneco é bem diferente de interagir com um paciente. “O manequim é inerte. Quando há interação com um ser humano, na urgência, a situação muda completamente. Anamnese não se faz com boneco, se faz com paciente. Você não aprende medicina sem conversar: é uma premissa básica”, complementou.


De acordo com dados levantados pelo CFM, atualmente seriam necessários 45 mil novos leitos para cobrir o déficit aos estudantes de medicina. Mais de 80% dos municípios que possuem escolas médicas não têm número de leitos suficientes de ensino e 73% das cidades que têm cursos de medicina não possuem nenhum hospital de ensino. Além disso, seriam necessárias 198 novas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESFs).


O 2º tesoureiro do CFM também criticou os interesses que movem os empresários da educação. Segundo ele, abrir escola hoje no Brasil é fácil, o difícil é oferecer aprendizado de qualidade. “Percebemos que muitos só querem ganhar dinheiro. Não importa se a formação do aluno depois de seis anos é boa ou ruim. Eles jogam no mercado. E aí nós temos o problema. A solução para isso é política. É olhar as escolas que têm competência e mantê-las e abrir novas com respeito a critérios”, comentou.


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